Dizem-me que escrevo bem,
que devia continuar, mas sem lamentos,
penso sempre que a minha escrita fica muito aquém,
que nunca vou ser reconhecida pelos meus talentos.
Mas orgulho-me de mim,
orgulho-me de ter seguido pela minha própria estrada,
não era suposto vir a ser assim,
mas sinto-me muito bem nesta simples enseada.
Criei o meu próprio espaço,
cultivei as minhas flores,
agora sei sempre o que faço,
já não há margem para dissabores.
Depender apenas de mim,
e manter algumas pessoas próximas,
sempre quis que fosse assim,
sempre me deparei com cerradas inglórias.
Finalmente consegui ser independente,
criei a minha fonte de tranquilidade,
vivo sem que nada me apoquente,
vislumbro um horizonte cheio de claridade.
A alguém devo a minha liberdade,
a minha concretização como pessoa,
pode ser que com o avançar da idade
percebam que a dor traz sempre alguma coisa boa.
Nem que seja um amadurecimento,
uma constatação de fatos concretos,
hoje tento olhar para o firmamento,
mas passei a estar abrigada debaixo de tetos.
Vejo o que é visível,
não tento descobrir o que não existe,
a vida é demasiado apetecível,
vou vivê-la com todo o direito que me assiste...
(Mafalda)