Continuo ou desisto?
Podia ficar aqui o dia todo,
de nada mais iria falar,
sinto-me a afundar no lodo
e sem ninguém para me puxar.
Queria estar em águas limpas,
queria mergulhar sem medos,
queria soltar estas fitas
que me prendem neste enredo.
Não sei como o fazer,
coisas muito importantes me rodeiam,
não sei mais o que devo temer
como fazer com que me leiam?
Não falo dos meus leitores,
esses são fiéis e assíduos.
Falo do meu amor
falo de um único indivíduo!
Para ele eu escrevo,
por ele eu choro,
por causa dele desespero,
ele teve o efeito de um meteoro.
Abriu uma cratera profunda,
que encheu de tudo o que é bom.
Partiu no meio da barafunda
e não emitiu mais qualquer som.
Ficou em mim um enorme vazio
no lugar que antes estava cheio,
com muito esforço sorrio,
mas não me posso meter de permeio.
Tempo e mais tempo,
dizem que tudo resolve...
Mas que fazer com o sofrimento
que sempre me envolve?
Tempo que pode acabar,
tempo que pode chegar tarde,
como se consegue avançar,
se o amor é fogo que arde?
Arde e deixa ferida,
queimadura profunda no meu ser,
ainda não aceitei esta despedida,
mas um dia vou ter de o fazer.
Se deixar de acreditar,
nunca conseguirei que ele volte,
mas acreditar só por acreditar...
em nada resolve.
Tenho de sentir,
tenho de crer,
não vou ainda partir,
vou deixar o tempo decorrer.
Se espero muito ou pouco,
não vos sei responder...
Se o mundo não fosse tão louco,
não haveria nada a compreender.
Sei que gosto, sei que amo,
além disso nada sei.
Sei que já passamos o meio do ano,
e que pelas tuas promessas eu esperarei.
Não tenho alternativa,
não consigo dar a volta.
Continuo na expetativa,
continuo sem revolta.
Acomodada neste marasmo,
com uma fé que diminui todos os dias,
vou ter de recuperar o meu entusiasmo,
necessito dele para ter alegrias.
(Mafalda)