Na vida só me arrependo do que não fiz,
ou do que deixei por dizer,
de não ter sido mais feliz
mesmo deitando tudo a perder.
Tudo o que fiz faria outra vez,
nunca me arrependo de o ter feito,
deveria ter aproveitado mais, talvez,
mas ter consciência pode ser um grande defeito.
Sempre fui impulsiva e verdadeira,
não lido bem com a diplomacia,
digo o que penso à minha maneira
mesmo que por vezes cause uma enorme razia.
Não me arrependo de nada,
fiz tudo o que podia,
arrependo-me de não ter sido mais descarada
e aproveitar a vida enquanto ela me sorria.
Hoje faço um balanço,
de quase meio século de existência,
de repente já não me canso
já não procuro qualquer clemência.
É inata esta capacidade
de cair e me erguer mais forte,
experiência adquirida com a idade,
abrir os olhos e aproveitar até à morte.
Porquê criar expetativas
quando nunca se iam concretizar,
as palavras são muito relativas
e nunca se iriam eternizar.
Casos são meros casos,
nunca passam disso no futuro,
acreditar que sim são apenas atrasos
verdadeiros apenas para imaturos.
Viver, ser louca,
gozar cada instante,
aproveitar, ficar rouca,
nunca mais me sentir hesitante.
Sou a pessoa mais importante,
e o que não me faz bem não me faz falta,
para quê continuar num caminho errante
e esconder-me das luzes da ribalta?
Não, chega!
Consegui enregelar o meu coração,
de nada adianta uma simples achega
quando se tem o mundo na mão...
(Mafalda)