Foi um fim de tarde como outro qualquer
mas o incómodo instalou-se rapidamente,
dei por mim a pensar no que leva uma mulher
a escrever poemas sobre um tema tão inexistente.
Mágoa, dor, saudade,
amor, paixão, leviandade,
desejo, ternura, cumplicidade,
empatia, alegria, felicidade...
Tudo junto numa pessoa só,
a pessoa que sei ser a minha pessoa,
passei pelas brasas com este imenso nó,
acordei na esperança de que já nada lhe doa.
O meu sentimento é descabido,
não posso deixar o pensamento fluir,
de que adianta pensar nesse amor perdido,
de que vale esperar sem mais ninguém existir.
Mas a vontade não é nenhuma,
não imagino sequer outra pessoa a meu lado,
quis a sorte fazer-me sentir a brandura
de uma vida pacata mas com uma sensação de inacabado.
Não posso voltar a questionar os porquês,
não me posso permitir pensar nessa pessoa,
é certo que um coração que não vê
acaba sempre por andar muito à toa.
Porque tocam as músicas naqueles sítios exatos,
porque aparecem situações que me fazem reviver,
bolas, estes poemas estão a ficar chatos,
assim até eu me vou fartar de os escrever.
Amor ausente, amor esquecido,
expus a minha vida num blog e num livro,
não considero que tenha sido tempo perdido,
libertei sentimentos que me inflingiam muito perigo.
Mas ele deve permanecer calado,
porque nunca falou sobre ele com ninguém,
como é possível viver nesse estado,
sabendo o que sinto (e se o sabe bem)...
(Mafalda)