Uma névoa persistente
cobre o horizonte visível,
vou deixar de ser insistente,
vou viver apenas o verossímil.
De nada adianta esperar,
o que vale estar assim?
Esperar por quem não vai chegar,
por quem não vai voltar para mim?
Estou disposta a abdicar,
tenho de o conseguir fazer.
Eliminar para sempre a palavra "Amar",
e apenas continuar a viver.
O amor não pode ser assim tão importante,
que nos faça esquecer de nós,
tenho de aproveitar cada instante,
antes que perca a minha voz.
Quero ser louca, divertir-me, sair,
deixar de estar no meu retiro,
aproveitar tudo o que há-de vir
e esquecer o motivo do meu suspiro.
Foi muito bom, mas acabou,
tudo o que é bom acaba um dia.
O teu amor por mim, findou
e o teu pensamento sofreu uma completa razia.
Já nada queres saber,
já não tens qualquer interesse,
só me custou a perceber
porque não queria acreditar que isso acontecesse.
Mas é a realidade,
a minha e a de mais ninguém,
tenho de aceitar a verdade
e seguir para mais além.
Estagnar não é o meu estilo,
preciso de loucura na minha vida.
Vou fazer tudo para sair deste retiro
em que tempo a mais já estive escondida.
Vontade não tenho nenhuma,
mas assim não posso continuar,
vou esperar que se levante esta bruma,
vou esquecer o verbo "Amar".
Tenho de seguir em frente,
preciso de arranjar quem me obrigue,
não posso ficar parada eternamente
à espera que este sonho se realize.
Sou minúscula perante a minha vontade,
tenho grilhões em volta dos tornozelos,
mas tenho de aceitar a realidade,
não posso continuar a ter este zelo.
Ter uma preocupação constante,
com quem de mim se esqueceu,
insisti num amor cessante
e isso de nada me valeu.
(Mafalda)