Em tempos idos conheci uma nova sensação,
gostei imenso do que senti,
se estive num turbilhão
foi só por ter vivido o que já vivi.
Senti-me subir ao céu,
voar, planar,
atingi um horizonte sem qualquer breu
onde gostava muito de estar.
Mergulhava fundo nos oceanos,
nem para respirar vinha à tona,
nadar para sempre fazia parte dos meus planos,
nunca pensei em engasgar-me com uma azeitona...
Deixei de respirar,
deixei de nadar,
senti-me a sufocar
e sem ter onde me agarrar.
Se hoje já não me incomoda escrever sobre isso,
é apenas porque aceitei a realidade,
neste momento não há qualquer compromisso
que me faça afastar da verdade.
Perdi o pé e quase me afoguei,
salvou-me quem me deu a mão.
Tropecei e muito me magoei,
de nada adianta proteger o meu coração.
Ele insiste em seguir um caminho
que nem sempre é a direito,
mas desde que o corpo fique aqui bem quietinho
pode ser que o mantenha escorreito.
Estou bem, posso dizê-lo,
talvez por isso escreva menos,
para escrever tenho de estar a sofrer
e neste momento isso não está a acontecer.
Não quer dizer que não ame,
não quer dizer que não sinta muitas saudades,
só que como não há quem me chame
não posso viver rodeada de infelicidades.
Bloqueei esses sentimentos,
estou novamente como estive muitos anos,
depois de ter tido tantos bons momentos,
apenas desejo que continuemos humanos.
(Mafalda)
