Se antes pegava numa imagem
e escrevia um poema,
hoje faço uma enorme triagem,
até conseguir uma que se adapte ao meu tema.
Sempre saiu espontâneo
e sem dificuldade alguma,
o poema é momentâneo
mas nem sempre tem a imagem que se adequa.
Fica complicado escrever sempre sobre o mesmo tema,
parece que o mundo só gira à sua volta,
às vezes fico num verdadeiro dilema,
quando o sentimento se aproxima da revolta.
Não gosto de poesia morta,
com frases duras e incisivas,
gosto de ler escrita solta,
onde as palavras nunca são definitivas.
Para que serve a raiva,
a revolta e o mal querer,
pode haver quem não saiba,
mas sobre isso não irei escrever.
Sou incapaz de sentir ódio,
não faz parte da minha pessoa,
nunca sofri qualquer episódio,
não importa o quanto me doa.
Gosto de poesia romântica,
de ler sobre sentimentos nobres,
perdoem-me a modesta semântica,
sentir raiva torna-nos mais pobres.
Terei eu um coração grande,
ou uma grande dose de ingenuidade,
pouco importa por onde ande,
viverei sempre na minha própria serenidade...
(Mafalda)