Tempo, que tudo curas,
afinal tinham razão,
culpa tua que não me procuras,
nem me deste a absolvição.
Ainda escrevo para ti,
mas sem mágoa ou dor,
tudo o que contigo vivi,
será sempre um grande amor.
Desististe de mim,
desististe de nós,
só tu quiseste assim,
nunca me levantes a voz!
Se num futuro longínquo
vieres ter comigo,
não consideres iníquo
ter abdicado de um amor antigo.
Avancei, como querias,
deixar de olhar para trás,
mas sei o que dirias
se um dia fosses capaz.
Não foste, não és,
limitas-te a existir,
mantiveste-te cortês,
recusaste-te a admitir.
Perco eu?
Perdes tu?
O meu coração já muito sofreu,
agora está totalmente nu.
Não o vou vestir,
não o vou enganar,
deixei de resistir,
parei de estagnar.
Nove meses depois,
tempo de uma gestação,
acabou o "nós dois"
saí da minha prisão.
Se é liberdade condicional, não sei,
espero que seja para sempre,
tanto tempo eu esperei
por quem sempre se manteve ausente.
Posso continuar a escrever,
a fazer versos sem sentido,
mas cansei-me de não ter
um retorno que me era devido.
(Mafalda)
