Sim. Podia ter virado a cara
e ter olhado para onde queria.
Sim. Podia ter estacionado o carro
e ter ido ver se tu sorrias.
Mas obriguei-me a não olhar,
fui contra toda a minha vontade,
limitei-me a passar
fora do limite da velocidade.
Não posso, não devo, não quero,
de nada valia ver a tua cara,
entraria num longo desespero
o bom trabalho já feito logo acabava.
Obrigo-me a preferir assim,
longe da vista, longe do coração,
há quem me diga que eu insista
mas não vou ceder a essa tentação.
Passarei sempre que for necessário,
mas nada mais farei do que seguir em frente,
não espreito, não estaciono,
não quero voltar a sentir-me demente.
Tudo o que reconstruí até agora,
devolveu-me o gosto pela vida,
não vou deitar tudo fora
e voltar a sentir-me tão perdida.
Sim. Incomoda-me não me sentir indiferente,
angustia-me saber-te ausente,
mas preciso de ter uma vida consistente
sem a tua presença continuamente.
Sim. Gostava que tudo isto fosse um engano,
um erro que pudesse ser retificado,
mas tudo isto não passa de um desengano,
olho em frente e vejo que está acabado.
Sim. Nada disto foi o meu sonho,
nunca previ tal desfecho,
mas depois de um ano medonho
ter uma recaída... eu não deixo!
(Mafalda)