Rendo-me à ignorância,
à sensação de tudo ter perdido,
dias de muita abundância
antecedem dias sem qualquer abrigo.
Submeto-me à vossa compaixão,
já nada mais tenho a esperar,
permanece sempre a sensação
de estar a ser obrigada a hibernar.
Sensação de impotência
perante o que não depende de mim,
sensação de dormência
que nunca chega ao fim.
Mundo de sensações,
nenhuma delas a ambicionada,
preciso de fazer algumas arrumações
antes de dar o assunto por encerrado.
Sensação de esquecimento,
mesmo de quem não me costuma falhar,
talvez não seja este o momento,
talvez não me queiram procurar.
Remetida a sensações,
de impotência, de ausência,
vou escrevendo estes palavrões
para compensar uma longa abstinência.
Gosto do que até agora construí,
pena que não tenha um ombro a meu lado,
consola-me o que antes vivi,
pena que a companhia tenha acabado...
(Mafalda)