Podia falar sobre amor,
Tentar explicar o que é,
Iria entrar num grande torpor
Que apenas significaria que tinha fé.
Mas já não sou crente,
A vida ensinou-me a questionar
E muitas vezes sinto-me demente
Por ter passado tantos anos a acreditar.
É a mais pura das contradições
Tudo o que acabei de dizer,
É um emaranhado de confusões,
De quem tem receio de voltar a perder.
Mais perdas não,
O copo ficou definitivamente cheio,
A grande vantagem da solidão
É conseguir viver sem ter esse receio.
Não se perde o que não se tem,
Ninguém é pertença de ninguém,
Mas sem esperar eis que uma pessoa vem
E com ela, o receio de ficar tudo muito aquém.
Medo de derrubar paredes,
Com receio da derrocada final,
Os degraus são um entrelaçado de redes
Em que os pés se movem na diagonal...
(Mafalda)