O tempo...

03-06-2014 20:48
O tempo parou sem qualquer razão aparente,
a voz expirou mas continuavam frente a frente. 
 
Palavras infinitas trocadas sem um único som,
quem olhasse não ia entender o que se passava,
falar com os olhos não é apenas um dom,
é A cumplicidade por que todo o mundo ansiava.
 
O tempo corria lentamente,
embora depressa demais para pessoas que se amavam,
não sei qual deles foi o primeiro a chegar,
mas isso pouco importa porque ambos se desejavam.
 
Olhos nos olhos sem necessidade de um outro tipo de contato,
revelações inusitadas de uma estória de vida relatada sem artefatos.
 
Há mais de três horas que ali estavam,
absortos na profundidade daquele olhar,
em seu redor muitos se aproximavam,
mas depois todos acabavam por se afastar.
 
Ninguém percebia o som do silêncio,
ninguém entendia como é possível falar sem nada dizer,
entender a sintonia em que não se deita nada a perder,
é mesmo muito complicado de entender.
 
Um silêncio cantado de uma paixão avassaladora,
um alheamento total do mundo exterior,
podiam surgir rajadas de uma metralhadora,
nada iria interferir com aquele tão denso torpor.
 
Para quê palavras se elas podem ser ocas,
para quê desperdiçar sons que se esvanecem,
aquele olhar trazia a lume todas as emoções tentadoras,
de quem sente e nunca se esquece.
 
Podiam passar longas horas ali,
numa comunhão total de velozes pensamentos,
eram segredos desvendados a um ritmo alucinante,
silêncios perdidos numa barulheira inebriante.
 
O tempo ajuda quem nada quer dizer, 
quem prefere agir ao simples ato de falar,
são os nossos olhos que nos fazem viver,
são eles que mostram o que não queremos revelar.
 
(Mafalda)