Refugio-me no silêncio,
na prudência de não emitir um som,
tudo para que não volte a demência,
tudo para recordar apenas o que é bom.
Envolvo o meu pensamento em sedas macias,
prendo-o com fitas de cetim,
avizinham-se dias de novas razias,
há alturas em que sinto que já não estou em mim.
Sempre uma contrariedade,
sempre um derrubar do que se constrói,
começo a já não ter idade,
tenho uma dor mas não sei evitar o que dói.
É a certeza de novas confusões,
a incerteza do que está para chegar,
porque temos tantas destas situações,
não seria já a altura certa de parar?
Já chegava deste problema,
não eram necessários mais passos a superar,
compreendo agora quem sempre trema
ao ouvir aquela malvada palavra a chegar.
Tudo o que ambicionei foi conseguido
nem eu própria sei bem como,
mas o mais importante permaneceu esquecido
e reapareceu agora como sendo um todo.
Antes sem nada para mim,
sem conquistas nem sucessos,
vai sendo um hábito viver assim,
andar para a frente e sofrer retrocessos...
(Mafalda)
