Porquê amar uma só pessoa,
se há tanta coisa no mundo que se pode amar.
Porquê tentar ouvir o que não ressoa,
se há tanta coisa no mundo para se escutar.
O simples chilrear dos passarinhos,
o leve restolhar do silêncio,
os murmúrios das folhas que se ouvem em todos os caminhos,
o forte bater das ondas bem no fundo do precipício.
Porquê dedicar uma vida a alguém,
se há tanta coisa no mundo que merece a nossa atenção.
O prazer de descobrir pequenas coisas que nos apaziguem,
o prazer de viver, mas usufruindo de tudo quanto é sensação.
A sensação de aproveitar a cor, o cheiro, o tato,
deixar de ter receio do que é abstrato.
Viver o sublime sentimento de descansar a vista bem longe,
bem para lá dos confins do horizonte.
Aproveitar a vida com todo o seu esplendor,
permitir que pequenas coisas se tornem enormes.
Porquê dedicar a uma só pessoa o nosso amor,
se essa pessoa faz a sua vida sem deixar que a transformes...
(Mafalda)