Ao olhar para um fundo branco
e enchê-lo de palavras soltas,
imagino-me sentada num banco
rodeada de folhas revoltas.
Cai uma folha aqui,
cai outra mais além,
se não fui eu que escrevi
também não foi mais ninguém.
Deixo o pensamento voar,
envolver-se no turbilhão,
o vento há-de passar,
as folhas hão-de ficar no chão.
Vão cobrir o nosso caminho,
amortecer as nossas pisadas,
temos de andar devagarinho
para não as deixarmos muito amassadas.
De folhas caídas é feita a nossa vida,
caem e nada podemos fazer,
eram bonitas antes de desprendidas,
agora esperam por quem as vá varrer.
Estiveram suspensas durante uns tempos,
caíram e cobrem o chão,
aguardam por dias de menos ventos,
idealizam uma reutilização.
Podem ser deitadas fora
ou ser guardadas e admiradas,
nada há a fazer agora,
estão velhas e amachucadas...
(Mafalda)