Estou estranha...
Estranho a calma em que me encontro,
a falta de vontade para dar um passo,
sinto-me a viver num eterno conto
sigo em frente e não sei mais o que faço.
Estou estranha...
Apatia, desinteresse,
quem me rodeia já percebeu que estou diferente,
a única vontade é que adormecesse
e não tivesse que encarar o daqui para a frente.
Estou estranha...
Não sei o que se passa
ou qual o motivo da mudança,
sei que por muito que faça
voltas-me sempre à lembrança.
Estou estranha...
Sinto-me a andar ao sabor do vento,
a não resistir às correntes do mar,
sinto bem fundo um grande sofrimento
mas nada posso fazer para o superar.
Estou estranha...
A incerteza de um lugar ao sol,
o vazio permanente numa cama que foi nossa,
se começar aqui a desfilar o rol
vou ficar novamente na fossa.
Estou estranha...
Sinto-me estranha e não sei explicar porquê,
não sei responder a nada do que me possam perguntar,
o amor é algo que não se vê,
mas tenho a noção de que estou a começar a hibernar.
Estou estranha...
Falta-me a gargalhada feliz,
o passeio à beira mar,
de que adianta o que se diz
se nada acaba por se realizar.
Estou estranha...
Desiludida com o ser humano,
cansada de uma vida calma demais,
preciso de minimizar este dano,
preciso de ir brincar para os arraiais.
Estou estranha...
Sinto-me estranha...
(Mafalda)