Distância...

27-10-2013 18:01
"Não vás para tão longe! 
Vem sentar-te 
Aqui na chaise-longue, ao pé de mim... 
Tenho o desejo doido de contar-te 
Estas saudades que não tinham fim. 
 
Não vás para tão longe; 
Quero ver 
Se ainda sabes olhar-me como d'antes, 
E se nas tuas mãos acariciantes, 
Inda existe o perfume de que eu gosto. 
 
Não vás para tão longe! 
Tenho medo 
Do silêncio pesado d'esta sala... 
Como soluça o vento no arvoredo! 
E a tua voz, amor, como se cala! 
 
Não vás para tão longe! 
Antigamente, 
Era sempre demais o curto espaço 
Que havia entre nós dois... 
Agora, um embaraço, 
Hesitas e depois, 
Com um gesto de tédio e de cansaço, 
Achas inconveniente 
O meu abraço. 
 
Não vás para tão longe! 
Fica. Inda é tão cedo! 
O vento continua a fustigar 
Os ramos sofredores do arvoredo, 
E eu ponho-me a pensar 
E tenho medo! 
 
Não vás para tão longe! 
Na sombra impenetrada, 
Como se agita e se debate o vento!... 
Paira nas velhas ruínas do convento 
 
Que além se avista, 
A alma melancólica d'um monge 
Que a vida arremessou àquela crista... 
 
Céu apagado, negro, pessimista, 
E tu sempre mais longe!... "
 
(Maria Fernanda Teles de Castro e Quadros Ferro)