Como...

25-03-2014 20:29

Passei a tarde a copiar o que escrevíamos,

a guardar trocas de sentimentos,

há muito que já não o fazia,

hoje apeteceu-me reviver os momentos.

Juras infindáveis de amor eterno,

relatos de duas pessoas apaixonadas,

amor sentido, amor terno,

loucuras de amantes amplamente ovacionadas.

Fico sempre com um nó no peito,

quando revivo o que já não existe,

não encontro um único defeito,

percebe-se bem porque agora andas triste.

Andas tu e ando eu,

vivemos vidas sem as vivermos,

muitas vezes penso que já chega tudo o que se sofreu,

que a estrada da vida leva sempre a caminhos muito ermos.

Como encontrar alguém como nós,

como sair das solidões das nossas almas,

quando sabemos que ali ao lado há quem cale a voz,

e aparente viver uma vida nas calmas.

Aparências, falsidades,

toda a nossa vida foi assim,

avançam as nossas idades,

cada vez estamos mais perto do fim.

É o tempo, o tão afamado tempo,

aquele que nos escorrega por entre os dedos da mão,

vivemos os dois um eterno tormento,

estamos acompanhados mas em solidão.

Tu com a tua família,

eu com os meus amigos,

somos peças de mobília,

mas assim permanecemos dignos.

Aparências, farsas,

é isto o que temos para dar,

abraçamos os comparsas

e recusamo-nos a falar.

Escondemos o que sentimos,

não queremos ser mais recriminados,

sabemos que existimos,

mas estamos acabados.

Tu e eu, eu e tu,

cada um na sua vida oca,

sentimentos fechados num baú,

eu escrevo para não ficar rouca.

Apetece-me gritar aos céus,

exigir explicações plausíveis,

como o faria se não acredito em Deus,

nem em nada inatingível.

Se o que realmente existe é passageiro,

como acreditar em poderes supremos,

como manter o nosso principal companheiro,

e darmo-nos felizes com o que temos.

A vida é madrasta, todos o dizem,

nestas questões tenho mesmo de concordar,

por favor não ajuízem,

um dia vou acabar por me calar...

(Mafalda)