Chega!
Amanhã não posso continuar assim,
há três dias que não saio de casa,
desde que te vi triste, enfim,
a minha vida sofreu um golpe de asa.
A grande dúvida sobre dar-te o livro,
sempre a preocupação com o ar pesado,
desviei-me por momentos do meu abrigo,
agora preciso de dar o caso por encerrado.
Não posso empreender nesse assunto,
não posso continuar preocupada em demasia,
preciso de regressar ao meu mundo,
preciso de viver na minha eterna fantasia.
Ergam-se as máscaras da felicidade,
da boa disposição permanente,
a minha vontade era fugir desta cidade,
e destruir este sentimento para sempre.
Não posso continuar a pensar,
não te posso provar mais nada,
eu vou sempre aqui ficar,
terás sempre aqui a tua enseada.
Faz o que bem entenderes,
eu farei a minha vida normal,
não tenhas receio de me perderes,
nunca haverá por aqui um amor igual.
Posso sair com quem quiser,
rir, brincar, dançar,
mas tu não tens nada a temer,
porque se nasci foi para te amar.
Tu não queres o meu amor,
mas também não o dou a mais ninguém,
entende, estou cansada desta dor,
preciso vislumbrar mais além.
Não posso, não quero, não devo,
continuar aqui a escrever para ti,
da minha vida só me arrependo,
do tempo em que estive longe de ti.
Mas não mando na tua vontade,
amar é dar asas para partir,
se um dia quiseres a liberdade,
basta dizeres-me que queres vir.
Ontem, hoje e sempre,
não consigo esquecer o que sinto,
mas quando rodeada por muita gente,
ninguém precisa de saber que eu só minto.
Sou tua até à morte,
faça o que fizer entretanto,
acredita que desejo ter a sorte,
de me voltar a sentir alvo do teu encanto.
Mas enquanto isso não acontecer,
vou ter de seguir o meu caminho,
apenas não te posso voltar a ver,
senão regressa todo o meu carinho.
Lançaste-me um feitiço,
fiquei presa desde sempre,
mas se não quebras o enguiço,
tenho de me esconder no meio de toda a gente...
(Mafalda)