Aprende: é assim que se ganha a vida...

11-01-2014 19:15
"Errar é uma das acções mais acertadas que pode haver na vida. Eu sou pelo erro. Isso é certo. Sou por quem não abdica de tentar só porque tem medo de falhar. Sou por quem experimenta, e vai, e sofre, e chora, e espalma-se contra uma parede, e é pisado e repisado, e é humilhado e rehumilhado, e é derrotado e rederrotado. E que, no fim de tudo, porque fez, porque tentou, porque foi e não se deixou ficar, ganha. Ganha-se. Ganha-se como se ganha a vida. E a vida só se ganha – por mais que te falem em dinheiro e coisas assim – vivendo. O resto são falácias. O resto é exactamente aquilo que a palavra quer dizer: resto. Quando é que aprendes a respeitar o léxico que te foi ensinado?
 
Ter medo de errar é um erro. É sempre um erro. E é o único erro que não tem perdão. Sou maravilhado por quem erra. Por quem sabe que, por fazer, por tentar, pode errar. E são as melhores pessoas, convence-te disso, quem mais erra. São as pessoas que vão aos limites (e os ultrapassam sempre que lá chegam), que se testam como se não houvesse amanhã, como se o agora fosse tudo o que há para haver. E é: o agora é tudo o que há para haver. O agora é o que tens: é sempre o que tens. Nunca és mais do que aquilo que és agora. Por mais que penses no antes, por mais que projectes o depois: o que és é o que és agora. Sempre agora. Nada mais do que agora. E agora?
 
Agora pega em ti e ousa errar. Não erres propositadamente. Errar de propósito não é errar – é mirrar. É pré-errar. É sabotar o próprio erro – e querer, com isso, diminuir-lhe o impacto. Errar de propósito é acertar em cheio naquilo que não deve ser errar: uma dor pequenita. Nada disso. Errar tem de doer em grande. Errar deve doer em grande. Errar tem de fazer chorar, cantar, gritar, gemer ou correr. Errar tem de provocar. Tem de provocar reacções, compulsões, compressões ou simplesmente mutações. Porque só o erro gera a mudança, só o erro obriga à mudança. Só o erro te leva na direcção mais acertada. Qualquer livro de História te comprova que estou certo.
 
Não há fascínio maior do que o fascínio pelo erro. Pelo que poderia ser feito de outro modo. Pelo “e se eu tivesse acertado?”. E aquilo fica a pulular na cabeça. E é por causa daquilo ficar a pulular na cabeça que tu consegues, por tentares corrigir o que erraste, ir ainda mais longe do que aquilo que irias se não tivesses errado. O erro que te faz cair é o erro que te faz chegar mais alto. O erro que te mata é também o erro que te dá uma segunda vida – e, por sinal, bem melhor do que a primeira. O erro que não temes cometer é o erro que não te impedirá de vencer. Errar é humano. Mas errar é, mais ainda, o mano. O mano que te agarra e te leva para onde, antes de errar, querias ir. E que depois, não contente com isso, te volta a levar a errar. E assim vais andando, de erro em erro, de sofrer em sofrer. Até ao máximo que podes querer. Queres crer?
 
Crê no erro. Crê no erro como uma religião, como uma fé, como uma seita de oportunidades. Crê no erro como crês em tudo aquilo em que crês. Não receies expor-te, despir-te, entregar-te. Não temas ir longe demais quando ainda nem saíste do lugar, não te inibas de saltar quando ainda nem te levantaste da cama. Não. Crê. Crê no erro. Não queiras errar. Quer, sempre, acertar. Mas, se falhares, não penses que não acertaste. Acertas, sim. O erro é o pré-acerto. Nada mais do que isso: o erro é a antecâmara do acerto. Se hoje erraste a conquista de 5 amanhã vais acertar a conquista de 10. E se amanhã errares a conquista de 10 mais não fizeste do que abrir a porta para depois de amanhã conseguires a conquista de 15 ou de 20 ou de 30. Ou até de 50. Para quem não tem medo de errar o limite é o da sua tentativa – e nunca o do seu erro. Afinal de contas, para quem não tem medo de errar, o pior que lhe pode acontecer é – tal como a todos os outros – errar. E essa é que é verdade que não podes, nunca, esquecer: o pior que pode acontecer, quando tentas, é errar. Mas também foi um erro leres isto e tu ainda aí estás, certo?"
 
(Pedro chagas Freitas)