Constrói-se tanta coisa
a partir dum simples nada,
mas falar sem que alguém me oiça
é uma atitude um tanto tresloucada.
Numa aldeia constrói-se um castelo,
mas foi edificado com areia
e de uma forma singela,
há quem não queira entrar naquela aldeia.
Não queira atravessar o caminho
com medo de consequências,
prefere ficar no seu cantinho
apesar das imensas evidências.
Não pode atravessar,
não quer atravessar,
não deve atravessar
e aí não há volta a dar.
Afasta-se suavemente
vira as costas ao castelo,
sente orgulho numa vertente
mas não gosta de pensar no flagelo.
Às vezes hesita,
pondera avançar,
mas isso seria uma desdita
muito difícil de encarar.
Gostava de estar perto da aldeia,
divertia-se com a brincadeira,
mas fugiu como uma centopeia
antes que entrasse em desgraceira.
A aldeia fica cada vez mais deserta,
vazia de riso e de cor,
o castelo não foi descoberto
apesar de lhe ser reconhecido o valor.
Foi arrastado pelas ondas
que estavam fortes e intensas,
na aldeia só ficaram as tontas
envoltas em neblinas imensas.
Estar numa aldeia sem castelo
é um pouco surreal,
quando chegar o imenso gelo
perde-se o conceito de ser "leal".
Todos precisam de um abrigo,
de um local de confiança,
alguns evitam o perigo
outros aguardam a bonança.
Medo de gostar da aldeia,
de querer lá permanecer,
é sempre uma ideia
que vou ter de amadurecer...
(Mafalda)
