Às vezes é só mesmo isso que me faz falta,
estar sentada no sofá e ter um mimo,
sentir o toque de um abraço,
ser alvo de um gentil carinho.
Apenas ter uma presença,
aninhar-me de encontro a um corpo quente,
é difícil não entrar em demência,
ao imaginar um cenário tão envolvente.
Partilhar um comando de televisão,
espreitar um ecrã de computador,
é só nisso que pesa a minha solidão,
vivo quase sempre num silêncio ensurdecedor.
Sinto mais a falta ao serão,
após todas as movimentações do dia,
por muito que olhe para o meu colchão,
encontro sempre a minha cama vazia.
Ter um jantar a dois,
partilhar um fim de dia,
estar sempre à espera do depois,
mas pelo menos já não estou em agonia.
Só nestes momentos sinto a falta de uma presença,
mas quando a tenho ainda mais falta me faz,
para se saber viver é preciso engenho,
para se ter engenho tem de se estar em paz.
Sem pesos de consciência,
sem valores baralhados,
viver de acordo com a ciência,
não dar os assuntos por terminados.
Deixar sempre aberta a porta da esperança,
para que um dia tudo possa vir a ser real,
vou vivendo nesta grande bonança,
que sempre quis para mim, afinal...
(Mafalda)