"Se me comovesse o amor como me comove a morte dos que amei,
eu viveria feliz.
Observo as figueiras,
a sombra dos muros,
o jasmineiro em que ficou gravada a tua mão,
e deixo o dia caminhar por entre veredas,
caminhos perto do rio.
Se me comovessem os teus passos entre os outros,
os que se perdem nas ruas,
os que abandonam a casa e seguem o seu destino,
eu saberia reconhecer o sinal que ninguém encontra,
o medo que ninguém comove.
Vejo-te regressar do deserto,
atravessar os templos,
iluminar as varandas,
chegar tarde.
Por isso não me procures,
não me encontres,
não me deixes,
não me conheças.
Dá-me apenas o pão,
a palavra,
as coisas possíveis.
De longe."
(Francisco José Viegas)