Revelei-me...

09-11-2013 20:59

Revelei-me todos os dias

durante meses a fio,

aos poucos reabri-te o coração

e deixei de sentir o vazio.

Mostrei-me nua de segredos

dei o que de melhor e pior existe em mim,

fui remetendo a degredos

quem não me aceitava assim.

Abri-te o meu coração,

o corpo, a alma, a mente,

revelei até à exaustão

todo o meu amor ardente.

Fui ouvidos de quem quis falar,

contar segredos bem escondidos,

cumplicidade sempre a aumentar,

do tempo perdido fomos ressarcidos.

Fui ombro de quem quis chorar,

de quem se abriu por fim,

de quem me disse amar

e não saber viver sem mim.

Dei tudo o que podia,

procurei o que não estava ao meu alcance,

sempre que o fazia

ajudava a construir a nossa nuance.

Acreditei piamente

que tudo daria certo um dia,

mas quando o dia chegou

a alegria virou agonia.

Nada mais podia fazer,

tenho a consciência tranquila,

se palavras duras acabei por dizer

foi apenas porque muito sofria.

Quando cai tudo por terra,

todos os sonhos,

toda a esperança de ser feliz,

não entendeste que quem desespera

deixa de saber o que diz?

Só por isso posso pedir perdão,

por dizer o que não devia,

acatei toda e qualquer decisão

mesmo que fosse tomada à revelia.

Acreditei uma e duas e mais vezes

que seria naquele momento,

por favor não desprezes

quem se manteve sempre paciente.

Um dia a corda parte,

a angústia vira um sufoco,

cabia-te a ti a arte

de explicar o unívoco.

Desististe, ignoraste-me,

magoaste-me com a tua indiferença,

no final calaste-te

e ditaste a sentença.

Desististe, ignoraste-me,

magoaste-me com a tua indiferença,

no final esqueceste-te

que vou estar sempre na tua presença...

(Mafalda)