Revelei-me todos os dias
durante meses a fio,
aos poucos reabri-te o coração
e deixei de sentir o vazio.
Mostrei-me nua de segredos
dei o que de melhor e pior existe em mim,
fui remetendo a degredos
quem não me aceitava assim.
Abri-te o meu coração,
o corpo, a alma, a mente,
revelei até à exaustão
todo o meu amor ardente.
Fui ouvidos de quem quis falar,
contar segredos bem escondidos,
cumplicidade sempre a aumentar,
do tempo perdido fomos ressarcidos.
Fui ombro de quem quis chorar,
de quem se abriu por fim,
de quem me disse amar
e não saber viver sem mim.
Dei tudo o que podia,
procurei o que não estava ao meu alcance,
sempre que o fazia
ajudava a construir a nossa nuance.
Acreditei piamente
que tudo daria certo um dia,
mas quando o dia chegou
a alegria virou agonia.
Nada mais podia fazer,
tenho a consciência tranquila,
se palavras duras acabei por dizer
foi apenas porque muito sofria.
Quando cai tudo por terra,
todos os sonhos,
toda a esperança de ser feliz,
não entendeste que quem desespera
deixa de saber o que diz?
Só por isso posso pedir perdão,
por dizer o que não devia,
acatei toda e qualquer decisão
mesmo que fosse tomada à revelia.
Acreditei uma e duas e mais vezes
que seria naquele momento,
por favor não desprezes
quem se manteve sempre paciente.
Um dia a corda parte,
a angústia vira um sufoco,
cabia-te a ti a arte
de explicar o unívoco.
Desististe, ignoraste-me,
magoaste-me com a tua indiferença,
no final calaste-te
e ditaste a sentença.
Desististe, ignoraste-me,
magoaste-me com a tua indiferença,
no final esqueceste-te
que vou estar sempre na tua presença...
(Mafalda)