Recolho-me ao silêncio,
abrigo-me dos sons do mundo,
não procuro nenhum indício,
mas fujo de atingir o fundo.
Isolo-me da vida quotidiana,
entrei num retiro espiritual,
com paciência mediana
e conversa apenas casual.
Não me apetece! Não quero!
Isolar-me é um descanso.
Mas se às vezes ainda espero
é apenas porque não me canso.
Réstia de esperança absurda,
coração que dá vontade de arrancar,
como é possível sobreviver a esta chafurda,
e ainda continuar a gostar...
Sou parva, eu sei,
sou naif e sonhadora.
Mas sei que assim sempre serei,
é essa a minha faceta assustadora.
Acreditar até morrer,
mesmo que não faça qualquer sentido,
haverá aí alguém capaz de me perceber,
capaz de atravessar este deserto comigo?
(Mafalda)