Porque me apetece...

08-01-2014 21:26
"Quando me pediram para mostrar as veias apresentei uma imagem tua. 
 
E todos se riram e eu não entendi. 
 
Nenhuma ciência consegue compreender o amor. 
 
Arrancar-te de mim ou cortar os pulsos? E o que é a morte senão o instante em que percebes que te amputaram uma veia da alma? Ainda que o corpo persista (os corpos por vezes persistem, teimosos, quando todas as almas já se foram, quando todos os espaços estão vazios e só resta fechar a derradeira fechadura; há corpos teimosos, que não percebem que não depende deles, nunca depende deles, declarar a falência de alguém), ainda que haja a inspiração de sempre e a expiração de sempre, os segundos a passar, um a um, lentamente. Pode faltar-me até o sonho se estiveres ao meu lado para me fazer sonhar. 
 
Todas as quedas são úteis se me puderes levantar, 
 
Só para sentir que existes para mim, que estás para mim, e que verdade nenhuma (ouço por aí que não posso depender de ti assim, que nenhum amor resiste a amar-se assim) tem dimensão para se intrometer nesta invencível mentira. Quando não puder amar-te assim é porque já não te amo. 
 
Quando não sentir o chão parar quando tu não estás, quando não sentir tudo em mim abraçar-te quando te olho, quando houver algum momento imperfeito para ser tua.
 
Ou sabe a tudo ou não vale nada.
 
Ontem fomos ao parque juntos, velhos adolescentes em baloiços, em carrosséis, nos carrinhos de brincar onde aprendemos a ser crianças. E quando te dei a mão e te olhei no meio de toda aquela gente quis que até a morte chegasse mais depressa. Para podermos ter um final feliz. Para que nos acabássemos como deve acabar o que é imortal. Nós e o sorriso (há tantos anos o teu sorriso perante o meu esforço para te fazer rir; e as lágrimas sem parar enquanto te dizia que era para sempre e tu não acreditavas) que nos juntou. Já que temos de morrer que eu seja a princesa e tu o príncipe.
 
Que venha então a morte e o casamento final.
 
E que na nossa lápide duas simples frases se escrevam:
 
Morreram. E viveram felizes para sempre."
 
 
(Pedro Chagas Freitas)