Podem-me chamar velha,
gasta ou cansada,
mas aparece em mim uma centelha
sempre que estou de volta a casa.
Gosto da minha paz,
da minha tranquila solidão,
confusão pouco me apraz,
acabou-se o tempo da exaltação.
Um descanso abençoado,
é o que sinto no meu lar,
acabou o tempo amaldiçoado
em que não sabia o que esperar.
Nada espero, nada ambiciono,
tudo tem aparecido sem nada fazer,
já tampouco me dececiono,
porque já nada tenho a perder.
Se muito perdi durante uns tempos,
agora tenho mais do que antes tinha,
de nada me adiantavam os lamentos,
nem pensar que um dia ele vinha.
É o que tem de ser,
nada podemos contra o que está destinado,
mas por muito que faça para te esquecer,
ainda luto com um sentimento obstinado.
Já não o combato,
deixo-o expressar-se à sua maneira,
fiz com ele um trato
em que me permite alguma brincadeira.
Só quero manter o que agora tenho,
continuar em harmonia com o universo,
há um sentimento que não desdenho,
é ele que me faz escrever em verso...
(Mafalda)