Identidade...
Já caminho de cabeça erguida,
chegou a altura de me revelar,
deixei de andar escondida,
nada tenho que justificar.
Deixo revelar a minha escrita,
assumo o que aqui relato,
nada acontecerá para que desista
de assumir esta verdade como um facto.
Sou uma pessoa simples e normal,
com virtudes e com defeitos,
vivi uma situação pouco usual,
dela tirei escassos proveitos.
Esperava mundos e fundos,
queria acreditar que correria bem,
nem com a ajuda de todos os meus defuntos
consegui vislumbrar mais além.
Assumo o amor que vivi,
nada mudaria se voltasse ao passado,
foi por ele que tudo isto escrevi,
mas é por ele que tudo está acabado.
Sou uma pessoa consciente,
que não tem medo de mudar,
sonhei muito tempo com um amor emergente
que não se chegou a concretizar.
Bati fundo, muito fundo,
fui puxada por forças amigas,
quando estava deitada num chão imundo
percebi que o mundo não estava para cantigas.
Atos são a única coisa verdadeira,
as palavras desaparecem com o vento,
aprendi muito com toda esta brincadeira,
não permitirei nunca um novo sentimento.
Se sou diferente é pela ousadia,
sofro de demasiada temeridade,
nunca fujo perante uma agonia,
nunca viro costas a uma dificuldade.
Sou diferente porque sou sincera,
não tenho medo de colocar questões,
mas quase sempre o que me espera
é ficar a falar com os meus botões.
Sou frontal e muito direta,
não dou hipótese de ser mal interpretada,
podem considerar a minha conduta abjeta,
mas assim fico sempre elucidada.
Posso ter um sim, posso ter um não,
nunca saberia se não questionasse,
posso ter alguém a quem dar a mão
ou apenas fazer com que rapidamente se afastasse.
Gosto de saber em que cama me deito,
não tenho medo de ser atrevida,
já foi tempo em que o preceito
era ditado por uma mente rendida.
Sou discreta mas marco a diferença,
não preciso de mostrar o que não sou,
há sempre alguém que nota a minha presença
ou a minha falta quando eu não estou.
Serei só eu que sou assim,
ou há demasiado medo em assumir a verdade,
pouco importa se gostam ou não de mim,
serei sempre "viciante" até à eternidade...
(Mafalda)