Hoje se alguém me abraçar,
vou sentir um peso brutal,
vou desatar a chorar,
vou acatar o que não é real.
Não posso estar com ninguém,
apetece-me fugir deste planeta,
vou esperar por quem não vem,
esta vida é uma treta.
Como é possível sentir-me assim,
tenho andado a enganar todo o mundo,
pior é que também me enganei a mim,
ao dizer que aquele amor estava moribundo.
O destino baralha-me sempre a vida,
tenho no peito um nó muito apertado,
dizem-me para dar uma de aparecida,
dizem-me para não deixar o amor de lado.
Querem que eu vá à luta,
que batalhe pelo amor que sinto,
não tenho mais força para ser astuta,
acomodo-me à vida de uma forma sucinta.
Não faria sentido ser eu a procurar,
embora não pare de pensar em o fazer,
talvez um livro fazer-lhe chegar,
podia ser que o gostasse de ler.
Pelo menos não se sentiria tão só,
perceberia que alguém ainda se preocupa,
olhar para ele deu-me tanto dó,
que sinto que estou a ficar maluca.
Como explicar isto a alguém,
como assumir que tenho um sonho inglório,
as atitudes ficariam muito aquém,
para quem já me considera uma vitória.
Não, isto tem de passar,
não posso continuar a pensar,
sobre pena de me desgastar,
e acabar por desesperar...
(Mafalda)