Quando se dorme mal de noite
sem qualquer motivo aparente,
pensa-se que há algo superior que assim obriga
para não deixar fugir um amor premente.
Quando se acorda com má disposição
sem nada o ter justificado,
pensa-se logo no coração
que está a dar o seu sinal mas da forma errada.
Quando se está ansioso
e não se percebe o motivo,
pensa-se num desejo caprichoso
de tornar o mundo invertido.
Serão sinais,
será imaginação,
os factos são reais
e não há solução.
Regressaste ao teu emprego,
acabaram as "nossas" férias,
eu entrei em desassossego
por querer quebrar as regras.
Apenas disse que ia avançar,
refazer a minha vida,
de ti já nada tenho a esperar
desde a hora da tua partida.
Não me acordes às cinco
por estares a precisar de mim,
usa todo o teu afinco
para deixares de viver assim.
O prazo está a acabar,
o Natal está à porta,
se me queres recuperar
fá-lo antes que eu esteja morta.
Morta em sentido figurado
que é como eu ficarei,
ao deixar de ter um amor imaculado
pelo qual já muito esperei.
Se me queres vem,
antes que seja tarde,
se não me queres deixa-me ir mais além
porque o meu corpo já arde.
Não me prendas em pensamentos,
não me faças dormir mal,
tiveste tempo de ouvir os meus lamentos
mas nada fizeste, afinal.
Não tens esse direito,
"assombrar-me" sempre que penso em partir,
se alguma coisa tivesses feito
podias ter-me impedido de ir.
Ainda não fui mas estou prestes,
estou cansada desta solidão,
a tua vida refizeste
e hoje estou em dia não...
(Mafalda)