Deixa-me partir...

02-09-2013 09:11

Que irritação constante,

querer apagar e não conseguir,

tudo me persegue de uma forma penetrante,

oiço sempre o que não quero ouvir.

Pequenas coisas do quotidiano,

músicas, sons, expressões,

como eu queria que o mundo fosse plano

para não ter de andar aos trambolhões.

Não me mostres o que não quero ver,

não me obrigues a recordar,

por favor deixa-me permanecer

na casa a que eu chamo o nosso Lar.

Não me faças andar na rua,

deixa-me só e em paz,

porque recordar em nada atenua,

e assim esquecer... não sei se serei capaz.

Quero guardar bem no meu interior

tudo o que me fez feliz um dia,

mas preciso de mostrar ao mundo exterior

que sem ti também tenho alegria.

É teatro, eu sei,

mas tenho de me mostrar assim.

Já muito preocupei

quem verdadeiramente gosta de mim.

Custa-me muito mostrar que dou pouca importância,

ao melhor sentimento que alguma vez senti,

mas de que adianta mostrar a minha itinerância,

de que adianta dizer que não sei viver sem ti?

Estás na tua vida, como escolheste,

a opção foi apenas tua.

Se agora percebes o que perdeste...

Faz as malas e vem para a rua.

Mas enquanto não o fizeres deixa-me respirar,

deixa-me dormir um sono descansado,

não faças com que tenha de escutar

um coração que está demasiado afastado.

A nossa empatia sempre foi imensa,

falávamos sem ser preciso falar,

mas agora entre nós há uma neblina muito densa

e precisas de te convencer que tens de me libertar.

Não me prendas mais,

deixa-me partir.

Esquece os teus sentimentos reais,

ou então decide-te a vir.

Assim não posso continuar,

quero afastar-me e tu não o permites.

Por favor deixa de me preservar,

deixa-me ultrapassar todos os limites.

Não me chames durante o meu sono,

não penses em mim de madrugada,

se me deixaste totalmente ao abandono,

porque insistes nesta charada?

(Mafalda)