Aninho-me.
Envolvo o meu corpo num abraço apertado,
enrosco-me em mim,
não tenho ninguém a meu lado.
Procuro no espaço vazio
um sinal de tempos idos,
encontro um lugar marcado
que apenas me faz voltar ao passado.
Aconchego-me numa cama demasiado grande,
rodeio-me de almofadas amarrotadas,
não quero pensar, não quero recordar,
mas as ideias não conseguem permanecer paradas.
Quero dormir, quero deixar de me lembrar,
mas dou voltas e voltas na cama,
agarro a roupa num ato desesperado,
como num apelo a alguém que não sabe que eu chamo.
Apetece-me ficar assim,
estagnada, encolhida,
há dias em que não estou em mim,
é forte o sentimento de partida.
Hoje é um dia cinzento,
em que nada me apetece fazer,
vou parar com o lamento,
tenho de arranjar algo com que me entreter...
(Mafalda)