Ando arredada da escrita
e sem qualquer motivo de inspiração,
mas já não sofro nenhuma desdita,
nem há dor no meu coração.
Ando arredada da poesia
e de toda a forma de divulgar a minha vida,
perdoem-se se estou a cometer uma heresia
mas para se escrever tem de ser de forma sentida.
Estou arredada das emoções
e daqueles sentimentos nobres e imensuráveis,
mas já não sofro de palpitações
nem de pressentimentos pouco palpáveis.
Estou arredada da dor
e as lágrimas secaram definitivamente,
mas deixei de sentir o calor
de juras de amor ditas constantemente.
Arredei-me das paixões
e do desejo de ter sempre alguém a meu lado,
vivo sem consternações
e todo o meu tempo anda esgotado.
Arredo-me do que me faz mal
e do que sempre acaba por causar dor,
sempre vivi a minha vida, afinal,
envolta num imenso fogo sem calor...
(Mafalda)