Só gostamos do que lemos,
quando nos identificamos no que está escrito,
quando ao ler nos lembramos do que sofremos,
quando estamos dentro do mesmo registo.
Gostar de poesia é paixão,
é sofrimento, é dor,
poeta não escreve com a razão,
escreve apenas com o seu ardor.
Massacra páginas em branco
com desgostos de desamores,
escreve muito e nunca é tanto
como os seus pensamentos interiores.
Dizemos gostar de um poeta em particular,
mas gostamos é do que ele escreve,
está em nós esta forma peculiar
de ler, porque escrever ninguém se atreve.
É complicado passar para o papel
sentimentos íntimos que nos envolvem,
é um tentar constante em ser fiel,
um zelo em esconder os problemas que não se resolvem.
Chamem-lhe privacidade,
digam que é discrição,
para mim é ter uma atitude covarde,
é esconder o que nos dá libertação.
Poetas somos todos,
mas poucos abrem o coração,
escrever palavras a rodo
só para quem não se preocupa com a aceitação.
Mas liberta, dá-nos asas,
pouco importa se alguém não gosta de nós,
damos cartas, conhecemos as vazas,
soltamos ao mundo a nossa voz...
(Mafalda)